Na tentativa de nos aproximarmos de forma remota da cidade de Diadema, desenvolvemos uma pesquisa que tem como fonte os "moto vlogs", vídeos de canais do youtube que colocam as motos como protagonistas. A partir deles buscamos compreender as diversas dinâmicas que envolvem as motos na cidade.
Elas se apresentam como um símbolo de autonomia e expressão, como uma extensão do próprio corpo se fazendo presente desde a rotina de trabalho ao lazer. Além de ser um meio de transporte, as motos se configuram também como um espaço, em movimento ou estacionada, do qual o motorista não precisa sequer sair para viver o que a cidade oferece. Sua presença no espaço urbano é perceptível e modificadora, as melodias ecoam por todo canto e as manobras fazem parte do cenário.
O grande jogo de caminhar
Demos início às conversas sobre “ O grande jogo do caminhar “ estudando Diadema, a fim de nos aproximarmos do centro histórico da cidade desconhecida. O tecido urbano, que nasce da confluência de caminhos que ligavam o planalto ao litoral, teve o boom de seu crescimento associado ao movimento da industrialização da capital paulista, a construção de grandes rodovias para escoamento de cargas e o avanço dos polos industriais para a região do ABC. Nesse cenário as fronteiras com os municípios de São Paulo e São Bernardo do Campo perderam importância nas dinâmicas do dia-a-dia, como decorrência da conurbação dos tecidos.
Entendemos, no momento de Definição (Banca 1) a aparente “desordem" das vias como produto do avanço fragmentado do traçado urbano da cidade sobre a topografia acidentada. Tal equação deixa rastros, resquícios espalhados pela cidade. Tais situações espaciais recorrentes eram ruas sem saídas; escadarias e vielas; detritos viários e consequências da ocupação do desnível.
“ A desordem é a ordem que não conseguimos ver” - Henri Bergson
Como entender a ordem de uma cidade sem poder estar presente nela? Ao longo do Desenvolvimento (Banca 2) nos aproximamos de Diadema usando uma ferramenta tipicamente remota, o Google Street View. Usamos de descrições e suposições durante escritas individuais acerca das imagens remotas, que rastrearam substantivos que “constroem" a cidade, sua paisagem e dinâmicas. Casas, balaústres, janelas, muros… não seria então uma cidade ordinária? Diadema parecia para nós como qualquer outra. Uma leitura particular de uma paisagem comum. Escadarias, dentistas, comércios, carros parados na calçada e motoqueiros poderiam ser temas de pequenos “guias" que juntos construiriam a nossa leitura remota sobre a cidade.
Como natural do processo da pesquisa para os “guias”, um assunto acabou nos instigando mais do que os outros. Para a etapa de Consolidação (Banca 3) nos deparamos com os motovlogs e “entramos" em Diadema através da perspectiva dos motoqueiros ao assistirmos os vídeos feitos para os canais no Youtube. A partir desse audiovisual, nos aproximamos das dinâmicas que envolvem as motocicletas e a cidade. A moto levada ao limite, é mobilidade, trabalho, lazer, esporte, status, ocupa e produz cidade.